Liberdade


(22/04/2023) Quando entramos num elevador, por exemplo, falar do estado do tempo é sempre um bom desbloqueador de conversa.

Eu por aqui também já estou a utilizar essa estratégia, começando por falar da meteorologia. Depois de uma semana em que as temperaturas andaram na casa dos trinta – as máximas, entenda-se – ontem choveu, hoje o termómetro desceu quase dez risquinhos, mas a partir de amanhã regressa o tempo de verão, sendo que por aqui já se diz que este ano não há primavera.

Não se trata de uma novidade, pois todos nós, principalmente os mais velhos, onde eu me incluo, que recordamos os tempos onde as estações do ano faziam jus às suas características, com as habituais exceções como o verão de São Martinho ou a água que caía na primavera, sustentada pelo ditado Abril, águas mil.

Nem a propósito hoje celebra-se o Dia da Terra, comemorações que tiveram lugar pela primeira vez nos Estados Unidos em 1970, quando foi organizado um fórum ambiental que envolveu 20 milhões de participantes.

Com o café já bebido, liguei o portátil e fiquei à espera que eles chegassem, o que não demorou muito tempo, pois sabem que eu sou muito rigoroso com os horários combinados.

“Bom dia Tio”.

“Bom dia juventude. Como é que estamos”.

“Sempre em grande forma”, disparou o OLHA. “E tu? Ouvimos dizer que vais ficar sem a Princesa?”.

“Já percebi que andam bem informados. Sim, é verdade, ela amanhã vai para Alverca, para seguir na 2ª feira, pela fresquinha, até Cullera onde vai conhecer o Francisco”.

“Quanto tempo vais ficar só com os patudos?”, quis saber a RODINHAS.

“Perto de duas semanas, mas o Ricardo vem cá passar uns dias. Bem, esclarecimentos efetuados…”, frase que sublinhei com uma grande gargalhada “… alguém sabe que data se comemora hoje?”.

“O Dia da Terra!”, exclamou o ALÉU.

“Muito bem, já sabia que vocês estão atentos a esta problemática”.

“Claro que sim, já participámos em várias ações para a defesa do Planeta”, confirmou a RODINHAS.

“Já sei, não há Planeta B”.

“Estás a brincar mais é verdade”, afirmou ela meio zangada.

“Não estava a brincar, eu levo isso muito a sério e faço a minha parte. Reciclo desde sempre, há muitos anos, quando ainda trabalhava, já utilizava transportes públicos e só não tenho carro elétrico porque não tenho euros que o permitam”.

“Infelizmente há muita gente que não pensa como tu”, lamentou o OLHA.

“Relativamente à reciclagem, aqui na minha aldeia temos um meio inovador com a recolha porta a porta. Foram-nos entregues três caixotes coloridos, azul, amarelo e verde, sendo que em dias pré-determinados, semanalmente, colocamo-los à porta e é feita a recolha logo pela manhã. Trata-se de uma forma de combater a preguiça de ter que ir aos pontos fixos que continuam a existir”.

“Acho uma excelente ideia”, afirmou a RODINHAS.

“Que espetáculo”, gritou o OLHA. “Também devia haver lá na minha zona, pois eu tenho que fazer uma boa caminhada para reciclar”.

“Só te faz bem andar a pé, mas nos grandes centros urbanos e mais complicado implementar um sistema como o que existe em Oriola. Depois de alertarmos para os problemas da Terra, que apesar de muitos negarem, está doente, vamos lá à distribuição do nosso trabalho para esta semana”.

“Tio posso acompanhar a Europe Cup?”, pediu o ALÉU.

“Podes sim, se não te importas, como eu não gosto de inglesices, vê lá se o caneco da Taça Europa vem para Portugal”.

“Combinado”.

“Prosseguindo, eu vou olhar para a Terceirona, a RODINHAS sobe uma divisão e o OLHA espreita a Primeirona. Dúvidas?”.

“Tudo esclarecido. Voltamos no feriado”, despediram-se eles, enquanto em fundo se ouvia o Grândola Vila Morena”.

Quarenta e nove anos depois, cada vez mais precisamos das ideias de liberdade e democracia.

Hoje no FORA DO BANCO temos o único treinador que já venceu o Inter-Regiões em femininos e masculinos.

Eu sei que só houve dois com miúdas, mas isso são pormenores.

Nome Completo: Diamantino José da Costa Fernandes

Clube atual: AP Aveiro

Idade: 51 anos

Local de Nascimento: Tarouca (Lamego)

Prato preferido: Bacalhau de qualquer maneira

Melhor cidade para viver: Coimbra

Livro que está na mesa de cabeceira: De momento nenhum. O tempo tem escasseado

O filme que já viu mais do que uma vez: O Silêncio dos Inocentes

Jogou hóquei em patins? Se sim, em que clube(es): Sim. AA Coimbra, AF Arazede e HC Mealhada

Como/quando chegou a opção de ser treinador: Apesar de treinar escalões jovens enquanto joguei, exclusivamente como treinador foi aos 29 anos. Esta opção devido à saturação mental de treinar, jogar, ser treinador e trabalhar

Clubes/seleções que já treinou: AF Arazede, HC Mealhada, ADOH Sports (antigo FCOH), AAC Coimbra e AP Aveiro

Mais fácil treinar equipas da formação ou seniores: Formação

Quanto tempo demora a preparar o próximo jogo da sua equipa: Entre planeamento, observação e análise de vídeo, cerca de 2 horas

Se pudesse, que regra alteraria no hóquei em patins: Apito na marcação de grandes penalidades; dupla penalização nos lances de cartão azul com a inferioridade numérica no caso de a equipa beneficiada não marcar o LD (cartão azul e exclusão para o jogador individualmente, mas reporia a igualdade numérica para a equipa)

Maior tristeza como treinador: Algumas, mas as mais marcantes foram uma derrota numa Final-Four da Taça de Portugal em Seniores Femininos contra a Noortecoop, com golo de ouro no prolongamento e a Final do Inter-Regiôes Masculino o ano passado em Bragança

E, claro, a maior alegria: Também algumas, mas ganhar o Inter-Regiões Feminino em Sesimbra (época passada) e o Inter-Regiões Masculino na Mealhada (esta época), foram sem dúvida das mais marcantes

Para terminar, o que mais o irrita durante um jogo: Falta de coerência de algumas arbitragens. Errar faz parte. Apitar lances idênticos de maneiras diferentes já não deveria fazer parte.

(25/04/2023) Ainda hoje me recordo desse dia. Eu tinha quatorze anos, era mais um dia para ir até à Escola Secundária Gago Coutinho, em Alverca do Ribatejo. Como era habitual logo de manhã, o meu Pai ligou o pequeno rádio a pilhas e as notícias deixaram-no preocupado: “Parece que há uma revolução em Lisboa”.

Com a sua habitual calma – muitas vezes só externa – resolveu que já não se deslocava nesse dia à capital, onde tinha uma consulta médica. Os meus Pais foram trabalhar e eu fui para casa dos meus Avós, onde beneficiei de um dia de férias.

Nessa altura tudo era novidade para mim, mas nas próximas semanas rapidamente percebi que muita coisa tinha mudado, sendo que no ano letivo seguinte tivemos uma disciplina nova, Introdução à Política lecionado pelo Professor Canário, sendo que ainda hoje me lembro da cara dele.

Memórias de 1974 que os meus jovens não têm, mas parece-me um bom assunto para o fora da caixa de hoje. Como hoje se joga a última jornada da 1ª fase da Primeirona, combinámos a nossa conversa para um pouco mais tarde do que o habitual. Minutos depois eles chegaram ao meu monitor.

“Boa noite Tio”.

“Boa noite juventude. Que tal correu este feriado?”.

“Foi uma maravilha, ainda por cima com um dia excelente”, exclamou o ALÉU. “Até deu para dar um pulinho á praia”.

“Correu bem a viagem da Princesa até Cullera?”, questionou a RODINHAS.

“Foi excelente e ela está encantada com o Francisco, puto mais giro. Vamos lá ao nosso trabalho, sendo que no fora da caixa de hoje gostava de ouvir as vossas opiniões sobre a data que se festejou hoje. Quem quer começar?”.

“Posso ser eu Tio”, avançou o OLHA. “Sempre ouvi os meus Pais dizerem que o 25 de abril foi fundamental para o nosso País, pois antes não era possível exprimirmos a nossa opinião, sob pena de sermos presos”.

“Já me explicaram e já li sobre isso, existia uma polícia política que lia os jornais antes de eles irem para a rua, o chamado lápis azul”, referiu a RODINHAS.

“Exatamente. Era preciso uma grande imaginação jornalística para conseguir, nas entrelinhas, enviar a mensagem sem que ela fosse censurada”, expliquei eu. “E tu ALÉU, queres dar o teu contributo?”.

“Claro que sim. Eu tive um familiar preso porque ele ajudava pessoas a emigrarem para França, que também não era permitido. Temos muita coisa para melhorar por cá, mas quando oiço falar no tempo do Salazar até me arrepio”.

“Eu não conheci o meu Avó materno, mas ele morreu na prisão, depois de ter sido preso pela PIDE, a tal polícia que o OLHA referiu. Mas, juventude, não nos podemos distrair, pois há por aí muita gente que gostava de regressar aos tempos dessa brutal repressão. Temos que usar a melhor arma que temos”.

“Já sei Tio, temos que sempre ir votar, para não deixarmos os outros decidirem o nosso futuro por nós”, explicou a RODINHAS.

“Miúda, é isso mesmo. Já percebi, aliás já sabia, que vocês são jovens bem formados, fundamental para não se deixarem enganar pelos populistas que são cada vez mais neste Mundo atual. Para já estamos a ganhar, pois tivemos 48 anos de ditadura e vamos em 49 de liberdade, mas nunca nada está garantido para sempre. Vamos lá então avançar para dentro do rinque, sendo que hoje vou começar eu. Fui espreitar a Zona A da 3ª divisão, onde a luta a três está emocionante. A rapaziada de Valença sofreu bastante para manter a liderança, também a malta de Ponte de Lima teve que dar o litro, com a curiosidade de só ter havido um golo na segunda parte e que foi o decisivo, enquanto que a equipa de Marco de Canaveses teve uma tarde mais sossegada, mas a busca pelo topo continua muito interessante. Vamos seguir para a RODINHAS”.

“Na Segundona tivemos uma surpresa a Sul, com os Brutos dos Queixos a serem surpreendidos no Monte Santos, a segunda derrota na prova – a primeira foi no Pico – e trazer ainda mais incerteza à fase final do campeonato. Entraram fortes os sintrenses, que ainda consentiram o empate na primeira metade, mas na segunda parte os picoenses não resistiram a três golos seguidos dos locais”.

“Temos luta até ao fim, sem dúvida e na próxima jornada temos um Turquel vs Alenquer. Agora é a vez do ALÉU que sofreu a bom sofrer”.

“Podes crer Tio. Que jogos de emoções fortes. Frente à equipa da casa foram as grandes penalidades que enviaram o HC Braga para a final, sendo que no jogo decisivo os minhotos perdiam ao intervalo, conseguiram dar a volta ao resultado logo no reinício do jogo, mas dois golos dos espanhóis acabaram por resolver esta final da Taça Europa. Foi uma pena!”.

“Só um podia vencer, mas os portugueses bateram-se muito bem, foi por muito pouco que o caneco não veio para cá. Vamos terminar com o OLHA”.

“Eu estive atento ao fecho da fase de grupos de Primeirona, onde já pouca coisa estava por resolver. Tivemos duas jornadas, com a última a ser hoje, sendo que no sábado ficou confirmada a presença do HC Braga no play-off onde vai defrontar o Benfica que venceu a fase regular. As descidas já estavam resolvidas, com três equipas históricas do nosso hóquei a caírem para a Segundona. Hoje só faltava esclarecer o quinto e sexto lugar, com a Oliveirense a não se deixar ultrapassar pelo Valongo. Neste acerto de contas final descobri que três equipas nunca empataram nas 26 jornadas, enquanto que Benfica, Sporting e FC Porto marcaram quase os mesmos golos, todos para lá da centena – como OC Barcelos e SC Tomar, mas com azuis-e-brancos a serem os mais concretizadores com mais um golo que os seus rivais da Segunda Circular”.

“Bons pormenores matemáticos, já percebi que gostas da matéria”, brinquei eu.

“Nem por isso”, riu-se o OLHA.

“Por hoje está terminado. Até sábado juventude”.

“Adeus Tio”, sábado cá estaremos”, despediram-se eles em grande velocidade.

Daqui a pouco vou descansar, mas com saudades da Princesa.

Foi em Sacavém que aconteceu a SACADA desta semana, em mais uma jornada do Nacional de sub-19.

Gritaram-se dezasseis golos, com destaque para os guarda-redes do Vasco da Gama de Sines, Afonso Terramoto (11) e Henrique Carmo (2).

Marcar golos numa final, fica sempre na história de um jogador.

Marcar três que foram decisivos na vitória, dão ao espanhol Gerard Teixidó (Voltregà), aos 34 anos, a felicidade de ficar com O VELHO desta semana.

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